sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Poluição da Pampulha é empecilho para título de Patrimônio Cultural da Humanidade

Foto: Estado de Minas

A Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (Unesco) alerta para dois entraves na candidatura do Complexo Arquitetônico da Pampulha a Patrimônio Cultural da Humanidade. O primeiro passo, segundo o diretor da Unidade Sítios do Centro Internacional para o Estudo e a Preservação do Patrimônio Cultural (Iccrom), Joseph King, é despoluir a lagoa, centro da obra do arquiteto Oscar Niemeyer. O desafio seguinte é encontrar fortes argumentos que convençam os avaliadores do órgão sobre a importância do complexo. “A lagoa parece ser o foco da obra. Entre os critérios do avaliadores está a integridade. A poluição indica que a lagoa está sofrendo com o desenvolvimento urbano”, diz King, que auxilia o Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco e veio ao Brasil para participar de conferências sobre conservação dos patrimônios mundiais. 

A última análise da qualidade da água da Bacia da Pampulha, feita pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) no primeiro trimestre, mostrou que ela alcançou o pior índice de poluição desde 2007. Segundo o relatório, as principais causas de degradação ambiental são os lançamentos de esgotos domésticos e industriais. A expectativa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente é de que a empresa responsável pela limpeza da lagoa seja escolhida ainda este mês. Já a dragagem, processo que possibilitará o desassoreamento, está em fase de testes. “A melhoria da qualidade da lagoa faz parte dos requisitos para que o patrimônio seja reconhecido. Cerca de 30% da bacia ainda está em processo de ocupação, com abertura de novos loteamentos e empreendimentos”, conta o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da secretaria, Weber Coutinho. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que não há previsão para o início dos trabalhos.

Está prevista também a restauração de alguns imóveis, como o antigo cassino, que hoje abriga o Museu de Arte da Pampulha, e a Igreja de São Francisco de Assis, que foi reformada há apenas oito anos e já está com rachaduras visíveis. As reformas serão feitas com recursos liberados pelo governo federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas.

RESIDENCIAL 

Ao ser questionado sobre as chances de a Pampulha ser escolhida pela Unesco, King foi categórico ao afirmar que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a prefeitura terão que se empenhar para convencer os avaliadores de que BH tem algo a mais que o projeto de Brasília, já eleita Patrimônio Mundial. “Niemeyer é um gênio, não há dúvidas. Mas é preciso mostrar por que a Pampulha é diferente. Com certeza, haverá comparações entres os dois e com outros trabalhos similares pelo mundo”, explica. “Brasília é uma escala diferente, é a capital de um grande país, com espaços abertos. A lagoa é mais residencial”, completa.

A diretora de Políticas Museológicas da Fundação Municipal de Cultura e coordenadora da Comissão Executiva do Programa Pampulha Patrimônio da Humanidade, Luciana Rocha Feres, confirmou que os critérios da Unesco serão levados em conta na produção do documento. O Iphan disse que usará o argumento de que a Pampulha é a obra seminal do arquiteto brasileiro, o conjunto que inaugura a arquitetura moderna do país. Segundo a superintendente regional do órgão em Minas Gerais, Michele Arroyo, Brasília surgiu graças aos experimentos feitos em Belo Horizonte, com a inserção de elementos nacionais e locais, o que provocou uma discussão sobre a modernidade. “Brasília não foi tombada como arquitetura do Niemeyer. A Pampulha inaugura uma nova arquitetura, um fazer brasileiro em relação ao barroco mineiro. Para a compreensão de Brasília e da história da arquitetura, a Pampulha é a chave”, conta. O dossiê com a justificativa deve ser entregue e analisado pela Unesco em 2015.

Conservação
Três dos nove sítios de patrimônio mundial do Brasil estão em Minas. No entanto, Ouro Preto, Diamantina e Congonhas sofrem com o desenvolvimento desenfreado. Joseph King conduz projetos de capacitação para conservação em vários países e diz que a solução é encontrar um equilíbrio entre o crescimento urbano e seus bens históricos e culturais. Luiz Souza, coordenador do Laboratório de Ciência da Conservação da UFMG, ressalta que as universidades são as melhores ferramentas para compreender o impacto sofrido pelos patrimônios.

Fonte: em.com.br

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